Informativo
Aumentos da alimentação fora de casa no Brasil são influenciados pela preferência dos indivíduos, maior restrição de tempo e diferentes arranjos familiares nos domicílios brasileiros.
A pesquisa desenvolvida na dissertação de mestrado em Economia Aplicada do estudante Pedro W. Vertino de Queiroz, defendida e aprovada no dia 26 de Fevereiro de 2015, buscou identificar quais fatores podem estar influenciando o aumento da demanda por alimentos fora do domicílio no Brasil. O estudo entitulado “Alimentação Fora de Casa: Uma análise do consumo brasileiro com dados da POF 2008-2009” foi elaborado sob a orientação do Prof. Alexandre Bragança Coelho que já vem desenvolvendo diversos estudos sobre a demanda de alimentos no país. Seguindo a tendência mundial, os gastos com alimentação fora do domicílio no Brasil vem aumentando ao longo dos anos e isso é um indicativo de que mudanças na estrutura econômica e social do país estão aumentando as restrições de tempo e, assim a demanda por alimentos prontos para consumo. A alimentação fora de casa representa em torno de um terço dos gastos totais com alimentação do consumidor brasileiro e isso requer atenção, não somente pelo lado dos setores alimentícios, mas também por aspectos nutricionais da população, quando se associa, por exemplo, este consumo alimentar à sobrepeso e obesidade. Diante dessas questões, o estudo abordou as associações entre as características socioeconômicas e demográficas dos domicílios brasileiros com seus gastos per capita com alimentação fora do lar.
No Brasil ainda pouco se conhece sobre as características particulares deste consumo alimentar. Ressalta-se, então, que uma das principais contribuições deste estudo para a literatura nacional foi analisar os gastos per capita com alimentação fora do domicílio desagregados em categorias de produtos. Além disso, foi feita a comparação para o total brasileiro e entre as classes de renda. Em destaque, a pesquisa incluiu variáveis que captam as diferenças das estruturas familiares, como o fato de o domicílio ser composto por apenas um indivíduo ou simplesmente não ter a presença de crianças. Em termos metodológicos, este estudo contribuiu para a estimação de um sistema de equações de dispêndio que incorporasse o plano amostral da POF. Dessa forma, este foi o primeiro trabalho para o Brasil, pelo que já se observou até agora, que incluiu os aspectos de uma amostra complexa nas estimações de sistemas de demanda.
Os resultados apontaram que aumentos na renda per capita afetam positivamente os gastos per capita com alimentação fora do domicílio e influenciam, principalmente, aumentos na demanda das categorias que incluíram almoço (e/ou jantar) fora do domicílio, bebidas alcóolicas e alimentação na escola. Isso é um indicativo de que setores ofertando quaisquer um destes serviços podem se beneficiar com aumentos na renda dos domicílios brasileiros. Outra conclusão importante sobre a renda per capita domiciliar é que parece existir um threshold de renda para o consumo de alimentação fora de casa. Em outras palavras, a renda, além de apresentar uma relação não linear com os gastos per capita com alimentos fora do domicílio, parece ter influência significativa somente a partir de um patamar, indicando que a classe intermediária é a que mais responde à aumentos da renda neste tipo de consumo alimentar. O estudo apontou também que há diferenças regionais na propensão à consumir e nos gastos per capita dos alimentos fora do domicílio, que, de modo geral, diminuem para as regiões do país quando comparadas à região Sudeste. Isso sugere que o mercado de Food Service tem ainda um grande potencial de crescimento nestas regiões. Ao contrário de outros países, o consumo brasileiro de alimentos fora do domicílio está pouco relacionado ao custo de oportunidade da mulher medido por seus salários. A inserção da mulher no mercado de trabalho ainda não tem impactos significativos no aumento do consumo de alimentos fora do domicílio no caso brasileiro, porém há uma tendência de que essa variável passe a exercer maior influência ao longo dos anos. Encontrou-se também que no Brasil, o consumo de alimentação fora de casa é característica de domicílios com chefes mais jovens e escolarizados. Ter um empregado doméstico no domicílio e/ou consumir alimentos prontos diminuem a necessidade de gastar com alimentos fora do lar. A conclusão mais importante sobre a composição familiar é que a presença de crianças no domicílio diminui o consumo de alimentação fora de casa. O trabalho apresentou diversos outros resultados que podem direcionar novos estudos sobre o consumo de alimentos no Brasil envolvendo questões de preferências, restrição de tempo e, principalmente, a demanda de alimentos em domicílios compostos por diferentes arranjos familiares. Além disso, esta demanda pode ser relacionada aos aspectos nutricionais e à saúde da população brasileira.
Fonte: Pedro W. Vertino de Queiroz